"Nessa altura, a rapariga espreitou por detrás da mãe,
agarrando o lenço às bolinhas que trazia à volta do pescoço e sorrindo.
Foi o primeiro sorriso da minha vida. Claro que isso é uma coisa
ridícula de se dizer; já me tinham sorrido muitas vezes (...) E, no
entanto, digo: foi o primeiro sorriso, porque foi o primeiro que alguma
vez me atravessou como uma agulha demasiado fina para ser vista." p.21
Aqui está um livro que me surpreendeu.
Quando o vi, com a sua capa
bonita, misteriosa e luminosa, pensei que iria gostar bastante dele. Li a
sinopse na parte de trás e gostei do que li. E aqui está uma sinopse
que não engana.
Gostei imenso do livro. É dos meus favoritos.
A
história é narrada por Jaffy Brown. Jaffy inicia a sua narrativa
falando da sua infância nos esgotos de Bermondsey, na casa por cima da
ponte onde vivia com a sua jovem mãe. Jaffy gostava imenso do mar. A sua
canção de embalar era o som das ondas e das músicas dos marinheiros.
Mas
a mãe de Jaffy teve de abandonar aquele local imundo e levou Jaffy e os
dois foram morar para uma casa em Ratcliff Highway. Foi nessa parte de
Londres que Jaffy, agora com oito anos, encontro o tigre.
O tigre
pertencia ao senhor Jamrach, um alemão que vendia animais selvagens.
Jaffy aproximou-se do tigre e tocou-lhe no nariz. O animal abocanhou-o e
levou na sua boca. No entanto, Jaffy foi salvo pelo senhor Jamrach.
Jaffy
foi trabalhar para a loja de Jamrach, onde conheceu Tim Linver, um belo
rapaz, com apenas mais um ano de idade. Tim tinha um irmão, Ishbel,
irmã gémea. Ele de olhos azuis e cabelo louro e liso, ela de olhos
castanhos e cabelo louro aos caracóis. Jaffy gostava muito dela.
Depois
de algumas trapalhadas e brincadeiras, chegou a noticia de uma
expedição em busca de um dragão e Tim foi convidado a ir. Jaffy também
quis ir e Ishbel pediu a Jaffy para cuidar de Tim, que era sempre muito
esperto e corajoso, mas no fundo tinha muito medo. Jaffy prometeu e lá
foram eles, com um caçador de animais selvagens chamado Dan Rymer, um
lobo do mar. Os três juntaram-se ao Lysander, o barco baleeiro que os
levou na viagem. E lá descobriram uma tripulação muito especial.
"Ainda a vejo de pé, a acenar, protegendo os olhos do sol". p.79
Esta
é uma história muito interessante. Jaffy tem uma forma muito especial
de a contar. A forma de a contar fez-me lembrar Kvothe, de O Nome do
Vento. Uma descrição precisa, uma descrição emocionada e cheia de
sentimentos. Emoções, muitas emoções. Uma viagem não só pelo mundo, mas
também pelo fundo do pensamento, do coração. Um relato de sobrevivência,
um relato muito detalhado e emocional. Uma viagem emocionante, cheia de
perigos e alegrias. Um desenlace frenético e estranho. Uma jornada pela
luta pela vida. Acontecimentos estrondosos.
"Por vezes, parecia que as estrelas ao longe, distantes de toda a
terra, estavam a gritar. Centenas de quilometros a berrar no interior da
nossa mente. Tão bela, aquela noite, acordar no céu com as estrelas
gritantes a toda a volta. Tremi. Em baixo, os outros pareciam estar a
milhões de distância e eu tinha medo de cair. Nunca me tinha sentido
assim e perguntei-me se estaria a ficar enjoado mais uma vez(...)" p.
186
Esta é uma
história, sobretudo, de sobrevivência e de luta. Luta pelo mais básico,
pela respiração, pela existência, pela amizade, pelo amor.
Uma história que me emocionou. Não estava à espera...
Este é um livro especial e bonito.
Recomendo-o a todos! :)