Este é um livro diferente. Tem um enredo diferente. Personagens diferentes. Um tema diferente.
"O
Circo dos Sonhos" conta a história do circo com o mesmo nome, que chega
sem avisar e só está aberto de noite. De um momento para o outro, o
circo aparece num local. Durante uns dias está lá, mas desaparece sem
avisar. Ninguém sabe muito sobre ele, mas todos os que o visitam ficam
maravilhados e encantados.
O circo é todo ele a preto e branco, com
algumas nuances de cinzento. E é enorme. Não se fazem espectáculos
comuns de circo. Tudo é mágico, diferente, etéreo, delicado. Parece um
sonho.
E o circo é o palco de um duelo. O duelo entre Celia e Marco,
dois mágicos, treinados desde pequenos para esta competição. Mas o que
eles não sabem é como tudo o que acontece no circo e nas suas vidas
influencia o jogo e como ele pode terminar. As regras não lhes são
explicadas, mas o jogo está sempre em movimento e ambos tem de lutar.
Assim
se pode resumir, muito resumidamente, o enredo principal da história.
Muitas outras personagens e acontecimentos polvilham a história e são
parte muito importante. Mas para falar em todos tinha de contar muito
sobre o enredo e penso que parte da magia do livro é mesmo o descobrir
por si mesmo à medida que se lê. Se contasse aqui muito mais, não ia ter
o mesmo saber para quem vai ler, não ia ter a mesma magia. Porque é de
magia que a escrita e a história deste livro são feitas. Todo o
ambiente, as descrições, os movimentos...tudo é mágico.
Gostei
muito da história. Muito criativa e muito interessante. Não sabia muito
sobre ele, só sabia que era bom. E sim, posso dizer que o é.
O
enredo está muito bem construído, tudo está lá, apesar de ser um pouco
confuso, por vezes. A história avança e recua, sendo uns capítulos, no
início, nos anos de 1800, e noutros em 1900. Não é bem isso que causa a
confusão. A confusão está em tudo. As próprias personagens sentem-se
confusas em relação a muitas coisas. A questão do tempo é percebida no
final: quando tudo começa. Este é um dos pontos que maior prazer me deu,
porque explicou a questão das datas e dos momentos aparentemente
desconexos (as partes da Celia, as partes do Marco, as partes dos
jantares, as partes do Bailey). Tudo se encaixa no fim. A linha do tempo
vai andando lado a lado até se juntar, em 1902. Esse é um ponto muito
bom, que revela a mestria da autora e a sua ousadia e diferença.
"-Eu próprio te teria escrito, se conseguisse pôr em palavras tudo o que desejo dizer-te. Um mar de tinta seria insuficiente.
- Mas, em vez disso, construíste sonhos para mim - diz Celia, erguendo
os olhos para ele. - E eu fabriquei tendas para ti que mal chegas a ver.
Tenho tanto de ti à minha volta e não tenho sido capaz de te dar algo
em troca que possas guardar.
- Ainda conservo o teu xaile - lembra Marco."
Em
relação às minhas preferências pelas personagens,de todas, as que mais
gostei foram (por ordem de preferência): Marco, Bailey, os gémeos e
Celia. Mas todas as outras são importantes para o enredo. Todos são
necessários e parte fundamental do mecanismo do circo (e da história).
Em suma, este é um livro muito bom. Uma experiência nova e diferente, que vai agradar a muitos leitores!